segunda-feira, 25 de junho de 2012

SER HUMANO OU SER PROFISSIONAL

Compartilho um texto que usava em sala de aula com meus alunos na Escola de Ensino Médio Governador Celso Ramos. A pergunta ainda é pertinente. SER PROFISSIONAL OU SER HUMANO? Seguramente todos já conhecem esta foto. Durante a fome que sofreu o Sudão, em 1993, uma menina agoniza enquanto um abutre espera às suas costas. A foto é de Kevin Carter. Depois de tirá-la, esperou ainda um tempo, já que pensava que seria ainda melhor se o abutre aparecesse com as asas abertas. Passados 20 minutos, algo se rompeu dentro dele. Foi correndo até o abutre, afugentou-o, sentou-se embaixo de uma árvore, acendeu um cigarro e começou a chorar. Quatorze meses depois, em maio de 1994, recebia nos Estados Unidos o Prêmio Pultzier de fotografia. A glória maior no mundo do jornalismo. A consagração como um dos melhores fotógrafos. Como profissional havia atingido o ápice de sua carreira, mas e como pessoa? Como pessoa Kevin Carter se suicidaria dois meses depois de receber o prêmio, em julho. Kevin Carter fora sempre um perfeito profissional. Em 10 anos presenciou, na África do Sul, fatos como: um grupo de brancos linchar um negro; em um funeral a multidão de negros espancar e atear fogo em outro negro de um grupo rival; alguns de seus colegas fotógrafos que ficaram mortos ou feridos pelo caminho. Viveu por todo o mundo algumas das tragédias que contemplamos comodamente sentados em nossas poltronas diante do televisor. Como profissional, perfeito, havia abdicado de sua sensibilidade, de sua vida, tudo em função da eficiência, para estar no lugar e na hora em que se produzisse o fato jornalístico e com a certeza de que o dedo não falharia na hora de apertar o disparador. O profissional estava crescendo, mas o ser humano estava cada vez mais destroçado. Em uma das frases de sua carta de despedida, afirmava: “Me perseguem Assassinatos & Cadáveres & Raiva & Sofrimento(...) O tormento que causa a vida obscurece qualquer alegria”. Esse caso é um pouco extremo, mas não é verdade que cada vez há mais entre nós mais e mais gente cansada já de viver(?), ou diretamente, mais casos de suicídio? Quantas vezes, nós mesmos, hoje em dia, não começamos a hipotecar nossa felicidade pensando no dia de amanhã, em que temos de ser os primeiros, ou pelo menos, estar preparados o melhor possível para a “competição”. Primeiro são nossos pais que nos repetem seus medos, seus conselhos nos quais vale mais uma hora de inglês do que uma hora brincando na rua. Mas pouco a pouco vamos assumindo e interiorizando seus temores, suas desconfianças no futuro, e em nossos vizinhos, em nossos companheiros e amigas, porque mais vale prevenir-se para o que virá. Primeiro asseguro meu futuro e logo, veremos. E assim vamos seguindo. Não só estamos destroçando a nós mesmos, como Kevin, ao eleger carreiras, entre outras coisas, de que não gostamos nem nos interessam, mas que serão muito úteis no dia de amanhã, além do mais estamos carregando a sociedade, e de quebra, o planeta inteiro. Alguns afirmam que na foto havia na realidade dois abutres. O segundo se encontraria por trás da câmara. Eu creio ser melhor dizer que havia duas vítimas, a menina, e uma pessoa que chegou a crer que ser um profissional, fazer seu trabalho o melhor possível, era mais importante que ser feliz, que viver. Extraída de Ekintza Zuzena, n° 16 – 94/95

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Desembarque seu talento

Participei como jurado do Concurso DESEMBARQUE SEU TALENTO, realizado pela RBS TV JOINVILLE com patrocínio da Gidion e Transtusa - Primeira etapa eliminatória no Terminal Itaum em Joinville. Fiquei feliz com a qualidade das apresentações. Abaixo o resultado. Matéria exibida no Jornal do Almoço em Joinville e Região. Produção: Midia Quatro Filmes.

sábado, 28 de abril de 2012

LER É CONQUISTAR A LIBERDADE

Desde a primeira edição venho acompanhando o crescimento da Feira do Livro de Joinville. Das nove edições, em seis eu fui parceiro do evento, através do SESC e da Fundação Cultural de Joinville. Neste ano fui uns dos produtores culturais. Foram onze dias de muita agitação no Expocentro Edmundo Doubrawa e Centreventos Cau Hansen, com lançamentos de livros, palestras, apresentações culturais e comercialização de livros. Como resultado, tivermos mais de sessenta mil visitantes e mais de cem mil títulos vendidos. Um número expressivo, porém, mais importante é a qualidade do que foi mostrado. Neste ano a Feira contou com a presença do curador Alcione Araújo e diversos nomes da literatura nacional, como Antônio Cícero, Affonso Romano de Sant’anna, Fernando Moraes e Ignácio de Loyola Brandão. Contou também com a Confraria do Escritor, que aproximou o escritor local da Feira do Livro. Mas, o que mais me chamou a atenção, foi a presença maciça das pessoas. Joinville veio até a Feira e gostou do que viu. A Feira entrou no calendário da cidade e das pessoas e já é um dos maiores eventos culturais do município. Sinto-me honrado em ter participado deste momento. Mais feliz ainda por ter adquirido diversos títulos para ampliar minha biblioteca, como o livro “Renato Russo – O filho da revolução” com 40% de desconto. Por trazer meus filhos pequenos ao universo da leitura. Por ver as pessoas felizes ao comprarem um livro. Por escutar a emoção das escolas com o vale-livro. Por ouvir histórias, como a do radialista Jota Martins e todo o seu esforço para ler/ouvir um livro. Por saber que a 9° Feira do Livro já é a melhor Feira de todas. Por ver o Humberto Tatuí no palco e pequeninu Alex circulando na Feira. Por saber da alegria de Vanessa Bencz com o lançamento do livro “Relato do Sol”. Por acompanhar de perto a realização do Instituto da Cultura e Educação e ter a Prefeitura de Joinville, através da Secretaria da Educação e Fundação Cultural e o SESC como co-realizadores. Por ouvir a Carol Liza ler Crônicas do Alcione Araújo. Por compartilhar histórias com a Denise e a Luciane, da organização. Por ouvir o Marinaldo declamar poesias e ver o Alfonsinho soltar bolhas de sabão. Por assistir o documentário do Luiz Gonzaga. Por presenciar senhoras tietes ficarem vermelhas ao receberem um autógrafo do Martinho da Vila. Por saber que boa parte dos expositores desejam retornar ano que vem à Feira. Por conversar com Ilaine Melo. Por conhecer o jornalista Ronaldo Corrêa. Por ouvir as crianças cantarem músicas do Expresso. Por encontrar um milhão de amigos que há muito tempo não via. Por rever O Velho Lobo do Mar e Baião de Dois. Por ver um pai feliz com o nascimento de um filho. Por aprender sobre segurança com a Márcia e toda a equipe da Minister. Por conhecer a história do Hélio Muniz com o Aderbal Freire Filho. Por sentir a tensão e a alegria da Sueli Brandão. Por perdoar. Por abraçar. Por construir pontes. Por LER e conquistar liberdade.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

GENTILEZA E COMPAIXÃO

Semana passada resolvi ir a praia com minha família. Eu, minha esposa, minha filha e meu filho. Fomos até São Francisco do Sul, na praia da enseada, lugar onde durante anos passei a virada do ano e muitos carnavais. Foi por lá também conheci minha esposa. A praia continua bonita, apesar da faixa de areia estar menor do que anos anteriores. Tinha muita gente por lá. Era gente na água, na areia, praticando esportes, jogando futebol, vôlei, andando, correndo, paquerando. Tinha também muitas crianças. O lugar é propício para curtir em família. Encontrei lá também uma amiga que não via há muito tempo. Conversamos sobre nossa época do Celso Ramos e sobre filhos, afinal, agora ambos somos pais. No meio da tarde fomos até o carro e deparamos com um automóvel estacionado bem atrás do nosso. Não poderíamos ir embora, enquanto aquele carro não saísse de lá. Não queríamos estragar nossa tarde e como o dia estava lindo, fomos comer crepes, ver um pouco do futebol de salão, depois fomos até as tendas levar as crianças para brincar. Sempre íamos até o carro verificar se já podíamos sair. Por azar, quase todos os carros ao lado, foram saindo, menos aquele dito cujo atrás do nosso. Chamamos a polícia, e ela disse que não podia fazer nada porque o estacionamento era num terreno e não era na rua. Resumindo, precisávamos esperar a boa vontade do motorista que obstruiu a nossa passagem. Já estava escurecendo e nada de aparecer alguém para tirar o carro. As crianças já estavam ficando com frio e sono. Tentei tirar o carro, pois havia uma possibilidade mínima dele sair. Não deu. Já estávamos desistindo, quando apareceu um casal com jovem que percebeu nossa angústia. Minha esposa contou a situação, e prontamente o jovem ficou revoltado com a situação e sensibilizado com a gente. Numa atitude rápida, o jovem simplesmente ergueu o carro que travava nosso caminho e o empurrou para o lado. Deu certo. Consegui tirar nosso carro e fomos embora. Claro, que agradecemos muito a atitude desta família e principalmente do jovem. Duas palavras me vieram a cabeça no momento. GENTILEZA E COMPAIXÃO. Gentileza porque tanto a nossa atitude como a do jovem foi cordial. Em nenhum momento pensamos em ter uma atitude que pudesse prejudicar o carro que atrapalhava nossa direção. Queríamos uma solução. Compaixão, porque o jovem se colocou em nosso lugar e numa atitude de bondade abriu nosso caminho. Sim, existem pessoas boas. Existem pessoas gentis e que tem compaixão. Que se preocupam com os outros sem pensar em recompensas. O dia terminou feliz. Sol, praia, família, gentileza e compaixão. Obrigado jovem.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

UMA MULHER GUERREIRA

Neste mês de janeiro, minha mãe, Verônica Guesser Petry, completou 74 anos. Compartilho um texto que li no seu aniversário de 70 anos.
UMA MULHER GUERREIRA. Hoje parece dia de estréia de teatro. O nervosismo é grande. A emoção também. Desde que decidimos fazer esta homenagem para nossa mãe, ficava pensando o que poderíamos fazer. Resolvemos fazer isto. Vou tentar resumir 70 anos em algumas palavras. Verônica vem do grego e significa portadora da Vitória. Significa também honestidade. Na bíblia é a pessoa que enxuga o rosto de Jesus e acalma seu sofrimento. Na numerologia Verônica é o número 6 que representa energia para harmonizar, ajudar e prestar serviços e quer viver num ambiente agradável, acolhedor, com luz e harmonia. Verônica Guesser nasceu em Massaranduba/SC no dia 24 de janeiro de 1938. É do signo de Aquário. O mapa astral do seu nascimento diz que Verônica é otimista, alegre e ama a vida. Verônica nasceu no horóscopo chinês no ano do Boi. Este signo representa a prosperidade, paciência e muita vontade de trabalhar. Uma pessoa decidida, de caráter firme, leal e de muita responsabilidade. Verônica teve mais 11 irmãos e desde cedo trabalhava muito. Sua vida em Massarandubinha não foi fácil. Estudou na Escola apenas 2 anos, mas na vida aprendeu muitas coisas que não se compreende na sala de aula. Era inteligente e captava muito rápido o que a professora ensinava. Foi na escola que Verônica conheceu o Albano, seu marido. É, a Verônica gostava de dar uns tapinhas, ou sombrinhadazinhas no seu paquera, Albano, quando este a incomodava. Algumas filhas adquiriram o mesmo hábito. Aos 20 anos, Verônica casa com Albano no dia 18 de janeiro de 1958. Somando esta data dá o número 6. Este ano estaria completando 50 anos de casada, mas o destino lhe reservou outros desafios. Depois do casamento, logo em seguida já engravidou e no mesmo ano já veio à primeira filha, a Isabel. Quase um ano depois veio a Mariana, depois o Carlos, a Irene, o Silvano, o Vítor, o Marcos, a Lúcia, o Lucas, a Marlene, o Mário, a Lucir, a Leonir, o Cristóvão e o 15º filho, o Emídio. Os nomes quase sempre eram escolhidos pelo Albano e geralmente tinham associação com algum santo do dia. É isso mesmo – 15 filhos. Todos de parto normal e apenas dois nasceram na maternidade. Alguns inclusive nasceram antes da parteira chegar. 1+ 5 dá 6 que o mesmo número do nome Verônica que já mencionei aqui. Na história da Verônica existiram 3 morros. O primeiro foi o morro onde ela nasceu e morou até os vinte anos em Massarandubinha. Depois quando casou com o Albano, veio o morro do sítio. E em Joinville, o morro aqui do lado. Morar num morro significa que muitas vezes a gente vai ter que descer e subir na vida, mas também ajuda a enxergar mais longe, a olhar melhor o horizonte, a estar mais perto da lua e das estrelas, porque não dizer, mais perto de Deus. Verônica saiu do seu primeiro morro e foi para o segundo ao lado do Albano e do segundo para o terceiro, agora com toda a sua família. Verônica ainda se lembra que logo após seu casamento, ia com o Albano e ficava a semana inteira no sítio trabalhando e dormia num barraco de ripa com o marido. Para poder lavar os pés, cortavam uma abóbora que servia como uma bacia. Boa parte da vida de Verônica Guesser Petry foi trabalhando na roça, pois no sitio plantavam arroz, cana, milho, banana. Faziam farinha e cachaça e ainda tinham a criação de animais como porcos, vacas, galinhas. Verônica também aprendeu a costurar. Fez um curso rápido de 2 meses e costurava a roupa de sua família aproveitando tudo que dava. Qualquer paninho virava roupa. As fraldas das crianças fazia com capas de coberta e lençol. Quando a calça do marido rasgava, ela aproveitava e fazia dela calças para os filhos. Os irmãos iam crescendo e passando a roupa para os menores. Além disso, ainda costurava para fora. Fez quase 10 vestidos de noiva. Ainda tinha que cozinhar, lavar, limpar. Ah, tinha também que cuidar e educar os filhos e dar atenção para o marido. UMA SUPER MULHER a Verônica. Como ela conseguia fazer tudo isso, eu não sei, mas ela dava um jeito. No começo precisava deixar os filhos fechados em casa para ir buscar o alimento na roça. Depois com o tempo teve ajuda de parentes e os filhos mais velhos tiveram que aprender e ajudar a cuidar dos irmãos menores. Os poucos momentos de lazer da família eram os casamentos. Mas também dava trabalho, pois tinha que levar a família toda. Então tinha que arrumar todos os filhos e geralmente iam de cavalo com aqueles balaios do lado para levar os filhos ou com carro de boi. Nesta casa Verônica casou alguns filhos. Uma vez a Verônica e o Albano foram passear em Jaraguá com uma lambreta da família. Era para visitar um parente que morava no alto de um morro (olha o morro aqui de novo). Quando o Albano chega na casa do parente, cadê a Verônica? Ela estava subindo o morro a pé. Ela tinha caído da lambreta e o Albano nem tinha percebido. Deve ter sido muito engraçado. Quando os filhos começaram a crescer e Massarandubinha não tinha escola de 2º grau, o marido Albano percebeu que precisava mudar de cidade e encontrar uma em que seus filhos pudessem estudar. Vieram para Joinville, aqui no Itinga. Foi em 1975. Somando 1975 chegamos ao número 4 – Energia para organizar, trabalhar e produzir. Primeiro veio o Albano que ficou um ano por aqui e voltava aos finais de semana para Massaranduba. A Verônica ficou no sítio com os 15 filhos plantando, lavando, cozinhando, costurando e rezando. Sim, com certeza Verônica rezou muito para acordar todo dia manhã e continuar a plantar, cozinhar, lavar, costurar, limpar... O Albano em Joinville criou primeiro a serraria. Depois aos poucos a família foi vindo e moravam numa casinha branca do terreno. Todos dormiam amontoados lá. Em seguida construiu esta casa e em 1977 a família toda já morava aqui. Aqui em Joinville, os filhos e filhas ajudavam na serraria, mas a família tinha a roça, vacas, porcos. Então todo mundo tinha que trabalhar. Da Serraria saíram às madeiras para construção da Igreja católica do bairro. Aqui ao lado da casa, ainda foi criado uma área de lazer com campo de futebol e cancha de bocha. Foi criado ainda a Marcenaria Petry. Um dia uma tempestade derrubou todo o telhado da Marcenaria, mas telhado a gente constrói de novo. Verônica era uma ótima cozinheira. Era não, ainda é. Chegava a fazer nos sábado 20 pães e 7 cucas. No sábado ela fazia o delicioso pão de trigo, que era para comer no domingo. Durante a semana a gente comia o pão de milho. No sábado também sacrificava umas galinhas, porque galinha era só para domingo. O domingo era esperado por todos, principalmente por causa da comida – maionese, galinha recheada e ainda sobremesa, pudim, sagu. Os filhos estão quase toda semana vindo comer as cucas no sábado de manhã, ou almoçar. É difícil resistir ao pão com nata, rosca, cuca... Quando os filhos ficavam doentes, fazia pudim e dava bala, pirulito, sempre muito preocupada. No natal, fazia latas e latas de doce. Os filhos não podiam ficar em casa porque o Crisquinte estava lá. Durante anos acreditamos que aquilo era verdade e que o barulho da cigarra era o Crisquinte cortando madeira para fazer os brinquedos. Verônica também estimulou a imaginação. Verônica ficou casada em vida com o Albano 27 anos, quando o destino levou seu marido. Era março de 1985. As sirenes choraram neste dia. Verônica Guesser Petry continuou (nunca tirou o Guesser do seu nome). Petry na numerologia é o número 5 e traz consigo a energia para criar, desafiar, arriscar. Guesser na Numerologia é o número 4 e 4 significa trabalho. E Verônica que já trabalhava muito, tinha agora mais um desafio – continuar mantendo a família unida. Acho que a perca do marido foi mais difícil de superar do que manter a família unida, porque por trás do Albano, tinha a Verônica e a Guerreira Verônica sempre organizou muito bem as economias da casa, administrou perfeitamente os egos dos filhos, buscou sempre estar em harmonia com as pessoas, teve coragem e força para olhar o horizonte e continuar... Na verdade Verônica começou uma nova vida. Viúva, nunca pensou em casar novamente. Sua vida é seus filhos e nunca desistiu de nenhum deles. Verônica quase nunca fica doente. Acho que nunca pensou em ficar doente. O trabalho e as responsabilidades eram tão grandes que não tinha tempo para isto. O destino já levou três netos e dois filhos. Tempos tristes de sirenes altas e soluços. Tem hoje 27 netos, noras, genros e amigos. Verônica mulher de fibra que além de criar 15 filhos, criou um neto/filho e um pinto, ou melhor um sobrinho/filho que veio moram aqui em Joinvile e vive com a gente até hoje. Verônica tem alguns medos, principalmente de trovoada. Mata uma cobra, mas corre e se desespera quando vê um sapo. Diz que não gosta de cachorro, mas a vida inteira teve cachorro em casa. A cachorra Branca sempre estava junto dela, lembram? Verônica é também uma manteiga derretida. Duvido que não está chorando ao ouvir esta história que ela já sabe. Perguntada como se sente com 70 anos ela responde: Passou muito rápido, mas eu to feliz, to feliz. Principalmente pela união dos filhos. To feliz com meus filhos e eu nunca me arrependo por eles. Mãe. A gente está unido porque você é o nosso exemplo. Você é testemunha de fé e perseverança, sempre procurando harmonizar nossos ânimos. Sentimos muito orgulho de sermos seus filhos. Queria falar poucas palavras sobre essa Guerreira, mas não foi possível. Aliás, falei muito pouco e poderia falar a noite inteira, mas termino por aqui. Há outras histórias que vocês devem buscar com a homenageada ou lembrar com ela. Sobre a numerologia, mapa astral, horóscopo, apresentados aqui sobre a Verônica, não foram inventados. Pesquisei e uma pequena parte apresentei aqui. Vocês não precisam acreditar nisto. Sobre a história é diferente. A minha fonte de pesquisa foi essa MULHER chamada VERÔNICA, que eu chamo de mamãe. E mamãe é o número 6. Feliz aniversário.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Respeitável Público

Revirando alguns documentos antigos, encontrei este texto. Não fui eu que escrevi. Até procurei na internet, mas não localizei. O primeiro palhaço negro Benjamim de Oliveira conta um pouco de sua história. Leia. Vale a pena.
Respeitável Público! Respeitável Público! Esta é a minha história. Nasci em Pará de Minas Gerais no ano de 1870. Meu primeiro contato com o circo foi quando eu era vendedor de bolos nas portas dos espetáculos. Fiquei tão encantado com o que vi que não resisti, fugi de casa com o primeiro que passou. Aprendi acrobacias e trabalhei na corda do trapézio. Fiquei três anos com este circo, e como o dono me espancava, resolvi fugir com um grupo de ciganos, que se diziam caldeireiros, mas na verdade eram ladrões de cavalo. Estes queriam vender-me ou trocar-me por um cavalo, porque eu era negro e o Brasil ainda vivia nesta triste realidade. Fui salvo por uma boa alma cigana que sabendo da trama, me avisou e ajudou-me a sair desta enroscada. Meu nome é Benjamim de Oliveira. Caminhei sertão adentro, fui preso por um fazendeiro que julgava ser meu dono e eu, seu escravo fugitivo. Tive que provar que eu era artista fazendo acrobacias. Consegui. Fui embora e passei dias e noites com fome até que cheguei a um vilarejo onde realizava-se uma festa em benefício a São Francisco. Fui a rua mostrar o que sabia e de pires na mão saí pedindo esmola para o santo. Conseguiu dinheiro para comprar queijo e rapadura para a longa marcha que eu tinha pela frente. Cheguei a Mococa, estado de São Paulo. Lá encontrei um circo onde o chefe do elenco era um norte-americano. Fiquei dois anos com ele fazendo acrobacias e já ganhando um bom dinheiro. Fui parar em Nazaré, Minas Gerais, onde encontrei-me com aquele que seria meu mestre - Manoel Marcelinho, dono de outro circo e com ele comecei a trabalhar e crescer. Fazíamos apresentações em Minas e São Paulo. Foi aí que eu conheci Frutuoso Pereira que viu meu trabalho e contratou-me pagando meu primeiro salário fixo. Esta companhia era bem organizada e tinha alguns artistas estrangeiros. Aos 19 anos e trabalhando neste circo, vi a entrada da República na cidade de São João da Boa Vista. Mudamos para São Paulo e iniciamos uma tourneé pelos centros cafeeiros mais prósperos. Eu era pau para toda obra. Um dia, o palhaço Freitinhas adoeceu. A Cia reuniu-se para escolher um novo palhaço. A coisa ficou séria e muitos pediram demissão. Eu estava comendo ao lado, comendo no meu prato de folha – como negro eu não me sentava à mesa com os outros – quando o novo sócio de Frutuoso disse: “O moleque Benjamin vai fazer o palhaço”. Tremi. Se não fosse preto, decerto teria ficado pálido. Apelei com os olhos para o Frutuoso. Ele, porém, confirmou. Eu tive que fazer o palhaço. O resultado foi que na primeira noite fui vaiado com gestos e assobios. Na segunda levei batatas e ovos podres. Fomos para Santos onde me quebraram a cabeça. Em outra cidade me atiraram uma coroa de capim. Parecia predestinado ao fracasso, mas eu não desisti. Até que uma noite em São José dos Campos, começaram a me aplaudir e pedir bis. Foi lindo. Foi minha glória. Como é bom ver seu trabalho ser reconhecido. Vieram as cartas, telegramas e convites. Fui para o Circo Amaral com um salário maior. Começa aqui uma nova fase de minha história. Fui para o Rio de Janeiro e comecei a trabalhar no circo de um português. Numa noite, após o espetáculo, um homem procurou-me. O dono do circo, Comendador Caçamba disse: “O palhaço é um negro que eu tenho” e me chamou: “Negro Benjamin”. Apareci, o homem me felicitou e entregou-me uma nota de 5 mil reis e foi embora sem que ninguém soubesse quem era. Descobrimos que tratava-se de Floriano Peixoto, o então presidente do Brasil. O dono do circo queria tirar proveito da situação e me obrigou a ir ter com Floriano e consegui o que meu patrão queria: salvar o circo. E o próprio Peixoto convidou-nos para levarmos os espetáculos ao largo da República bem em frente da sua janela, chegando a pagar o transporte de todo o material. Daí em diante minha carreira disparou. Ganhei muito dinheiro. Dei muito dinheiro à empresários e com 84 anos morri. Morri na miséria, na penúria. Mas lutei, pode ter certeza. Muitos obstáculos eu venci. Eu fiz a minha história.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

APLAUSOS PARA AMORABI

Esta semana, a Associação de Moradores e Amigos do Bairro Itinga (AMORABI) receberá a Medalha de Mérito Cultural Cruz e Souza. É o reconhecimento do Governo de Santa Catarina para pessoas e entidades que promovem a arte e a cultura no Estado. A Amorabi é a única representante joinvilense e pela primeira vez uma Associação de Moradores recebe tal honraria. A indicação foi aprovada pelo Conselho Estadual de Cultura. Começo a história da Amorabi. São 30 anos completados em 2011 e desde o ano 2000 desenvolve ações de cultura. Na época, existia o Grupo Cultural Itinerante, da qual fazia parte, que se uniu a Associação para promover o “Sextas Alternativas”. Desde lá não parou. Hoje é referência em Joinville e no Estado como entidade cultural. Tornou-se um Ponto de Cultura do Governo Federal e promove cursos de teatro, coral, artesanato e cinema. Já são quatro mostras de teatro, duas de artesanato e treze mostras de talentos. Conta com o apoio do SIMDEC, da Fundação Cultural e Prefeitura de Joinville em diversos projetos. Mais de 25 mil pessoas já participam de seus projetos. Mas tudo isso não teria sentido se a comunidade não abraçasse o projeto. O público comparece e participa. Durante oito anos, a Amorabi nunca recebeu recursos públicos. Não desistimos. Tínhamos um lema: “Teatro da periferia feito com amor, ousadia e muita teimosia”. Teimamos. Havia algo acontecendo. Os grupos e artistas queriam se apresentar no Itinga gratuitamente. Uma transformação estava em processo. Nas primeiras apresentações, havia muito barulho, eram crianças correndo, adultos conversando. Com o tempo, o comportamento mudou, e as pessoas participavam fazendo perguntas aos artistas no final de cada espetáculo e conversando sobre arte e cultura, no já tradicional chá com cuca. Os cursos de hoje são freqüentados por alunos que ontem assistiam as apresentações. Uma frase me marcou nestes últimos anos do projeto. Um aluno do teatro escreveu: “Antes eu tinha vergonha do meu bairro e hoje tenho o maior orgulho de falar que moro no Itinga.” Eu também tenho o maior orgulho de dizer que moro neste bairro há trinta e cinco anos, e que ele não é só uma passagem para as praias, é também um lugar de gente batalhadora, que sempre “brigou” e ainda “briga” por melhorias para a comunidade, mas também de gente simples que valoriza iniciativas que melhoram a qualidade de vida das pessoas. Outra frase que recebi e que me incentivou a continuar foi: “Semeai, semeai sempre, não importa quem colhe. Deus sabe quem plantou.” Continuem semeando, os frutos já estão nascendo e muita gente está colhendo. Agora, não é só Deus que sabe quem plantou. A comunidade do bairro, a cidade de Joinville e o Estado de Santa Catarina, através da Medalha Cruz e Souza, também conhecem os “agricultores da arte e cultura” do Itinga. Agradeço a todo grupo da Amorabi que continua a escrever diariamente esta bonita história. Me sinto honrado de fazer parte dela.